A investigação
científica, utilizando o método científico, procura, de
uma forma sistemática e controlada, descrever a realidade de modo preciso
e válido, recorrendo a métodos de estatística descritiva
e inferencial e, num patamar mais elevado de evidência, estabelecer relações
de causalidade (p. ex., verificando critérios de causalidade comummente
aceites) que permitam, a partir de condições conhecidas, prever
o acontecimento de determinados resultados.
Esta descrição do Método Científico que,
por uma questão pedagógica, será apresentado como um processo
constituído por oito fases, será feita com base no paradigma da
Investigação Médica.
A investigação
inicia-se pela identificação de lacunas em determinadas áreas
do conhecimento, ou seja, pela formulação da questão. Muitos
são os meios usados para identificar as lacunas de conhecimento: problemas
encontrados na prática clínica, leitura de bibliografia científica,
problemas focados em congressos e reuniões, entre muitos outros.
Após esta formulação faz-se, geralmente, uma revisão
do conhecimento (revisão bibliográfica) existente sobre o assunto
a ser tratado. A revisão bibliográfica é importante para
identificar as questões que se mantêm em aberto, os métodos
geralmente usados no estudo das questões em causa e os erros e limitações
de outros trabalhos.
A formulação da questão, sendo a primeira e, talvez, mais importante fase para a execução de um bom trabalho de investigação, deverá identificar o objectivo e explicitar o objecto do trabalho de investigação.
A principal função
de desenho do estudo é explicitar o modo como é suposto serem
encontradas as respostas à questão formulada.
Ao conceber o desenho do estudo definem-se certas características básicas
do estudo, como sejam, a população a ser estudada, a unidade de
análise, a existência ou não de intervenção
directa sobre a exposição, a existência e tipo de seguimento
dos indivíduos, entre outras.
Num trabalho de investigação, a selecção de um desenho
apropriado é essencial para a obtenção de resultados e
conclusões válidos. A escolha inadequada do desenho do estudo
leva à obtenção de resultados incorrectos e ao desperdício
de recursos humanos e financeiros. Ao seleccionar determinado desenho é
importante assegurar-se da sua validade e exequibilidade. Na comunidade científica,
a importância de um determinado trabalho de investigação
é primariamente avaliada à luz do desenho de estudo adoptado.
Existe uma enorme variedade de desenhos de estudos e é necessário
ter conhecimentos básicos sobre, pelo menos, os mais frequentemente utilizados.
O investigador deve ser capaz de escolher e desenvolver o desenho mais apropriado para responder à questão formulada. Deve ainda ser capaz de justificar essa selecção e conhecer as vantagens, desvantagens e limitações da escolha que foi feita.
A validade e precisão
das conclusões de um trabalho de investigação dependem,
em grande medida, da criação de instrumentos adequados para a
colheita de dados.
Se se pensa fazer a colheita de dados especificamente para o estudo, isto é,
utilizar dados primários, é necessário construir instrumentos
ou seleccionar instrumentos já construídos por outros investigadores
que permitam a colheita dos mesmos. Se se pensa utilizar dados secundários
(informação previamente colhida com outros propósitos)
devem desenvolver-se instrumentos que permitam a extracção dos
dados pretendidos a partir das suas fontes originais. É importante, neste
contexto, ter os conhecimentos necessários ao desenvolvimento de instrumentos,
assim como conhecer os conceitos de validade e precisão aplicados aos
mesmos.
O uso dos instrumentos
para colheita de dados num estudo piloto é uma das mais importantes partes
da construção destes. O estudo piloto, por regra, deve ser levado
a cabo, não na amostra escolhida para o estudo a realizar, mas sim numa
amostra, normalmente mais pequena, proveniente da mesma população.
A selecção
dos participantes envolve a definição dos critérios de
inclusão e exclusão, tendo em conta a população
que se pretende estudar, e a selecção de um grupo restrito de
indivíduos dessa população - amostragem - que irão
ser estudados.
O objectivo principal de qualquer método de selecção de
participantes é diminuir, tanto quanto possível, tendo em conta
as limitações existentes, as discrepâncias entre os resultados
obtidos a partir da amostra escolhida e as verdadeiras características
da população em estudo. O método de amostragem baseia-se
na premissa de que um número relativamente pequeno de indivíduos
de uma população, quando seleccionados adequadamente, podem fornecer
resultados que se aproximam, com um determinado grau de certeza, daqueles que
se encontrariam se se estudasse a população de onde a amostra
proveio na sua totalidade.
A teoria da amostragem é guiada por dois princípios essenciais:
Existem três métodos principais de amostragem:
É necessário
conhecer e saber utilizar estes métodos de amostragem, assim como, conhecer
as vantagens e desvantagens de cada um e as situações específicas
em que podem ou não ser usados, de modo a poder escolher o mais apropriado
para o estudo a ser realizado.
O tipo de amostragem usada vai determinar a capacidade de generalização
dos resultados do estudo realizado, para a população estudada,
e determinar o tipo de análise estatística que deve ser levada
a cabo.
Até ao momento, foi sendo desenvolvido todo o trabalho preparatório do estudo.
O próximo passo será
conjugar todos os vários elementos de modo a poder apresentar a descrição
e estruturação do estudo a ser realizado.
O protocolo é
um plano geral que informa quem o lê sobre o problema em questão
e do modo como se tenta resolvê-lo. As várias instituições
podem ter diferentes padrões, tanto para a forma, como para o conteúdo
dos protocolos, mas a maioria delas requer aquilo que aqui se define, sendo
as directrizes apresentadas aceitáveis para a maioria delas.
A principal função do protocolo é a de tornar possível a comunicação clara, detalhada e estruturada, do seguinte:
Tendo definido o desenho
do estudo e os outros passos preliminares do trabalho de investigação,
é chegado o momento de iniciar a realização do estudo propriamente
dito.
A primeira fase será a obtenção dos dados. O desenho do
estudo já deve ter definido, à partida, os procedimentos a adoptar
para a obtenção dos dados e o protocolo do estudo já deve
conter a estruturação e calendarização das tarefas
necessárias à obtenção dos dados.
A partir dos dados vão fazer-se generalizações e tirar-se
conclusões; eles vão ser o suporte de todo o estudo, logo, deve
ter-se grande atenção a esta fase, pois é nela que, muitas
vezes, surgem problemas que inviabilizam ou diminuem grandemente a validade
do estudo. Existe uma grande variedade de métodos e estratégias
que podem ser utilizados para a colheita dos dados e que convém conhecer
e saber utilizar apropriadamente.
O processamento e a análise
estatística dos dados são, também, fases essenciais na
realização do trabalho de investigação propriamente
dito.
O processamento compreende a introdução, edição,
limpeza e a manipulação (ex: categorização de variáveis
contínuas) dos dados em bruto, fases importantes para a preparação
da análise estatística.
A análise dos dados consiste na aplicação de técnicas
de estatística descritiva e inferencial, com o objectivo de retirar informação
útil das observações realizadas.
Ao longo da disciplina de Introdução à Medicina serão
focados os aspectos básicos relacionados com a análise estatística
de dados.
A divulgação
de resultados é o passo final de todo o processo de investigação,
e vai constituir o meio pelo qual vão ser comunicados ao mundo os resultados
e conclusões resultantes do trabalho de investigação realizado.
A decisão sobre a maneira como os resultados vão ser comunicados
já deve ter sido tomada inicialmente, na altura da elaboração
do protocolo.
Resta, agora, pôr as mãos à obra e escrever. Antes de começar,
porém, deve criar um esquema, que deve ser incluído no protocolo
e que ajuda a organizar os temas e ideias. Os moldes em que a divulgação
dos resultados será feita derivam, necessariamente, do tipo de investigação
realizada, dos fins a que se destina e das preferências pessoais.
Basicamente, os resultados podem ser apresentados em três formatos diferentes:
A publicação
dos resultados pode tomar várias formas:
1) sumário;
2) comunicação
curta;
3) artigo original;
4) relatório
de investigação;
5) tese ou dissertação.
Cada um destes meios de comunicação tem as suas regras próprias, mas além destas devem ser, ainda, seguidos alguns princípios básicos, tais como a necessidade de clareza e brevidade. O texto deve ser apresentado na terceira pessoa, de maneira lógica e com linguagem precisa. Uma vez concluído o texto, qualquer outro investigador deverá ser capaz de reproduzir, se o desejar, integralmente, todos os passos do trabalho de investigação.