Existem várias formas de classificar os desenhos de estudo, no entanto, mais importante do que a classificação, em si, é conhecer as várias características a ter em conta na classificação de um determinado tipo de estudo e conhecer e compreender, adequadamente, a terminologia utilizada.
Quanto à
manipulação de intervenções directas sobre o
objecto em estudo podem-se definir três tipos de estudos: experimentais,
quasi-experimentais e observacionais.
Os estudos experimentais caracterizam-se por apresentarem manipulação
de intervenções directas sobre os indivíduos em estudo
e atribuição aleatória da intervenção em
causa. O exemplo típico de estudo experimental é o ensaio clínico
randomizado.
Os quasi-experimentais são estudos em que existe manipulação
da intervenção, mas não atribuição aleatória
da mesma. São exemplos de estudos quasi-experimentais certos ensaios
de campo, certos ensaios de intervenções na comunidade e os ensaios
clínicos não randomizados.
Nos estudos observacionais não existe manipulação
de intervenções directas sobre os indivíduos em estudo,
limitando-se o investigador à observação destes e suas
características. Exemplos destes últimos são os estudos
de coorte, os estudos de casos e controlos, os estudos transversais, entre outros.
Quanto à unidade de análise os estudos podem ser classificados em vários tipos: aqueles em que a unidade de análise é o indivíduo, de que são exemplos os ensaios clínicos, os estudos de coorte, os estudos de casos e controlos, etc; aqueles em que a unidade de análise é o grupo de indivíduos, que são os denominados estudos ecológicos; aqueles em que a unidade de análise são os artigos ou trabalhos de investigação, sendo exemplos destes as revisões bibliográficas ou os estudos de metanálise; outras unidades de análise poderão ser a família, a comunidade, entre outras.
Quanto à base de selecção dos participantes os estudos podem ser classificados segundo apresentem selecção dos participantes pela presença de uma determinada exposição ou pela presença de uma determinada doença ou resultado esperado. Esta classificação é aplicada aos estudos observacionais e é ela que permite distinguir dois dos desenhos mais usados em investigação clínica – estudos de coorte e estudos de casos e controlos. Nos estudos de coorte a selecção dos participantes é feita na base de uma determinada exposição, sendo os indivíduos, à partida, divididos em expostos e não expostos, com posterior comparação destes dois grupos. Pelo contrário, nos estudos de casos e controlos a base de selecção é a presença de doença, sendo os indivíduos, à partida, divididos em doentes e não doentes, com posterior análise retrospectiva e comparação destes dois grupos.
A existência
de um período de seguimento dos indivíduos em estudo é
também utilizada na classificação dos desenhos de estudo
e define dois grupos: os estudos transversais e os estudos longitudinais.
Os primeiros não apresentam período de seguimento, os dados são
colhidos num único ponto no tempo e representam um corte transversal
ou fotografia das características da população em estudo
e são usados, por exemplo, para estudar a prevalência das doenças.
No caso dos estudos longitudinais, existe um período de seguimento, mais
ou menos longo, dos indivíduos, existem pelo menos dois pontos no tempo
em que se colhem dados e permitem estudar as mudanças de estado que ocorreram
na população durante o período em que esta foi seguida,
são usados, por exemplo para estudar a incidência das doenças.
Quanto ao
período de referência, isto é, o período a
que se referem os dados que são colhidos num estudo, existem dois tipos
de estudos: os estudos retrospectivos e os estudos prospectivos.
Nos retrospectivos colhem-se dados sobre exposições ou
doenças que ocorreram no passado.
Nos prospectivos colhem-se dados sobre exposições ou doenças
que ocorrem no presente ou que vão ocorrer no futuro, durante o período
de seguimento dos indivíduos.
Esta classificação é algo artificial, já que na
realidade, a maior parte dos estudos existentes não são puramente
retrospectivos ou prospectivos, mas um misto dos dois tipos.
Quanto ao
objectivo do estudo poder-se-ão classificar os vários desenhos
em: estudos descritivos e estudos analíticos.
Os estudos descritivos são aqueles que pretendem, unicamente,
descrever as características da população, através
da descrição das variáveis em estudo, sem se preocupar
em estabelecer relações entre estas.
Os estudos analíticos pretendem, não só, descrever
as variáveis em estudo, como também, estabelecer relações
entre estas, com o intuito último de estabelecer relações
de causalidade entre a(s) variável(eis) independente(s) e a(s) variável(eis)
dependente(s) em estudo.
Desenhos de estudo
Em seguida, descrever-se-ão uma série de desenhos de estudo mais comummente utilizados e mais frequentemente encontrados na literatura científica da área biomédica. Descrevem-se de uma maneira sistematizada e sucinta a estrutura, as vantagens e as desvantagens de cada um dos desenhos de estudo apresentados.