Reprodutibilidade e validade de medidas

Estudos de reprodutibilidade

Idealmente, num estudo a única fonte de variabilidade existente deveria ser a variabilidade biológica intrínseca aos sujeitos em estudo, contudo muitas vezes existe também variabilidade que está dependente da medição do observador ou do instrumento que mede.
Os estudos de reprodutibilidade pretendem medir o grau de concordância entre a observações feitas nas mesmas circunstâncias pelo mesmo observador/instrumento (concordância intra-observador/instrumento) ou por observadores diferentes (concordância inter-observador/instrumento).
A variabilidade intra-observador é predominantemente aleatória, a variabilidade inter-observador pode ser aleatória ou sistemática.
Diz-se que uma medida é reprodutível se provém de um procedimento reprodutível ou seja se repetido nas mesmas condições obtém as mesmas medidas.

Consequências da falta de reprodutibilidade:

A falta de reprodutibilidade nas medidas pode levar a importantes consequências a nível científico, clínico e médico-legal.
Consequências a nível científico:
Se num estudo científico for usado um procedimento não reprodutível ao repetir o mesmo estudo nas mesmas circunstâncias vamos obter diferentes medidas e consequentemente diferentes resultados e conclusões. Desta forma sem ter feito um estudo prévio de reprodutibilidade e sem ter a certeza que os procedimentos usados são reprodutíveis não faz sentido realizar um estudo científico.
Consequências a nível clínico:
A utilização de meios não reprodutíveis pode levar a resultados inesperadamente opostos. Por exemplo usando um teste de diagnóstico não reprodutível um paciente pode obter um resultado positivo e negativo em duas vezes que é submetido ao teste nas mesmas circunstâncias. Desta forma o paciente corre o risco de obter um resultado positivo sendo este negativo ou vice versa.
Consequências a nível médico legal:
Também a nível legal não pode haver igualdade perante a lei se os processos médico-legais se basearem em peritagens não reprodutíveis.

Como melhorar procedimentos pouco reprodutíveis:

Por vezes, é possível melhorar procedimento pouco reprodutíveis. Seguem-se alguns exemplos de formas de melhorar a reprodutibilidade na medição da pressão arterial.
Treino do observador:
O treino do observador pode aumentar a reprodutibilidade de um procedimento especialmente na concordância inter-observador. Um observador mais experiente pode obter resultados diferentes de um menos experiente na prática do procedimento. Por exemplo, a medição pressão arterial pode resultar em valores diferentes nas mesmas circunstâncias, quando medida por dois observadores diferentes, um mais e outro menos experiente. Uma forma de aumentar a reprodutibilidade inter-observador, neste caso, pode passar pelo treino dos observadores na medição da pressão arterial.
Normas:
A falta de normas simples e objectivas podem também ser uma causa da falta de reprodutibilidade de um procedimento. Por exemplo, a variação na medição da pressão arterial pode ser influenciada pela definição da velocidade de desinsuflação do cuff. Uma forma de aumentar a reprodutibilidade inter-observador, neste caso, pode passar pela definição da norma objectiva: A velocidade de desinsuflação do cufff será de taxa de 2 mmHg/seg.
Automatização:
A automatização ou informatização dos procedimentos pode aumentar a sua reprodutibilidade. Por exemplo, alguns observadores podem ter preferência por alguns dígitos e inconscientemente arredondar os valores que vão observando. Neste caso, a falta de reprodutibilidade pode ser ultrapassada usando um aparelho que esconde o resultado até que lhe seja solicitado, mostrando o valor exacto apenas nesse momento.
Múltiplas opiniões:
Por vezes a falta de reprodutibilidade na obtenção de algumas medidas só se consegue melhorar baseando a decisão em múltiplas opiniões independentes, arbitradas ou consensualizadas.
Por exemplo, usando a média de várias medições da pressão arterial feitas por diferentes observadores independentes.