Comunicação de Resultados

Publicação

Artigo original ou de investigação – em papel e on-line

Como já foi referido, a publicação de artigos é o principal modo de comunicação cientifica. Só os factos e estudos publicados em revistas cientificas de elevados padrões de qualidade e com um sistema de revisão por pares ou "peer review" são considerados fontes fidedignas.

Para a escrita de um bom artigo científico há dois pontos fulcrais: a solidez do estudo e a clareza da escrita. Ambos são essenciais e difíceis de obter.

Nas ciências biomédicas a tarefa do escritor, ao encontrar-se perante uma folha em branco é facilitada pela existência de uma estrutura básica, um outline, que os artigos de investigação devem seguir, não se incluindo aqui os artigos de opinião, as meta-nálises e os artigos de revisão. Esta estrutura designa-se IMRAD em inglês e significa Introdução (o que foi feito), Materiais e Métodos (como foi feito), Resultados (o que se encontrou) e (And) Discussão. A estas secções adiciona-se ainda o Abstract, que é uma espécie de resumo, sendo a única parte de um artigo que a maioria das pessoas lê. O Abstract pode ser organizado (vide "Instructions for preparing more structured abstracts", JAMA 1991), isto é, obedecer a uma estrutura rígida com várias partes ou pode ser livre. De qualquer modo, são sempre pequenos resumos que em norma não excedem as 250 palavras. Finalmente, deve incluir as referências devidamente ordenadas e completas e, se for caso disso, quaisquer anexos pertinentes.

É ainda importante que os escritores sigam as regras que cada jornal determina para a aceitação de um artigo, por isso, antes de o artigo estar concluído, é essencial determinar qual o jornal em que se pretende publicar e seguir as regras desse mesmo jornal. Estas regras são, normalmente, publicadas no primeiro número de cada ano, na contracapa de todos os números, ou estão disponíveis no site do jornal na Internet.

 

Título

Um bom título é, ao mesmo tempo, apelativo, descritivo e curto, fornecendo informações vitais ao leitor, para decidir se deve ler o artigo ou não e para a classificação e indexação do mesmo. Não deve ter ponto final. Consulte os livros "Medical Writing a prescription for clarity" de Neville W. Goodman e "Redacção e Apresentação de Trabalhos científicos" de Pedro Serrano para algumas sugestões sobre títulos.

 

Abstract e Palavras chave

O Abstract é, frequentemente, a única parte de um artigo que a maioria das pessoas lê. Por esse motivo, este é, talvez, a parte mais importante de qualquer artigo, devendo conter toda a informação essencial sobre o mesmo, desde a importância das conclusões, passando pelos resultados e sua validade, até aos métodos utilizados. Esta informação deve ser condensada, de modo a não ultrapassar as 250 palavras, ou mesmo as 120. Podem ser estruturados ou não, dependendo do jornal em causa. Mesmo que a estruturação não seja obrigatória, ela frequentemente melhora um abstract, tornando-o mais legível. A estrutura pode ser a do New England Journal of Medicine: Introdução, Métodos, Resultados e Conclusões. Existem outras estruturas (ex: objectivos, desenho, localização, participantes, intervenções, outcome, resultados e conclusões), mais ou menos flexíveis, dependendo do jornal.

Todas as abreviaturas e palavras desnecessárias devem ser excluídas.

O autor deve, ainda, incluir 3 a 10 palavras chave ou frases curtas que ajudem os indexadores a classificar o artigo. Para tal devem ser usados termos da lista de "medical subject headings (MeSH)" do Index Medicus.

 

Introdução

A introdução tem vários objectivos: chamar a atenção do leitor para o problema em causa; fornecer informação básica sobre o problema, de modo a enquadrá-lo e descrevê-lo claramente; justificar o estudo e enunciar os objectivos do projecto de investigação ou da comunicação. Todo e qualquer termo novo ou vago, deve ser claramente definido nesta secção. A introdução deve ser concisa, não se desviando dos pontos essenciais, tendo apenas as referências estritamente necessárias.

Erros mais frequentes na introdução: número exagerado de referências; excesso de informação preliminar; falta de informação preliminar; inclusão de conteúdos pertencentes a outras secções.

 

Material e métodos

Esta secção destina-se à descrição pormenorizada tanto dos materiais como dos métodos utilizados na investigação, de modo a tornar a investigação reprodutível.

MATERIAL

É tudo aquilo que se usa para concretizar uma experiência: pessoas, animais, fontes de documentação, aparelhos.

Pessoas – deve indicar se foram cumpridos os requisitos éticos para experimentação em seres humanos: consentimento expresso e consciente, após ter sido informado da finalidade e riscos da investigação.
Descrição completa dos critérios de inclusão e exclusão de casos (doentes/expostos) e controlos (elementos para comparação/não expostos).
Composição de cada um dos grupos em termos de idade, sexo, estatuto sócio-económico, e de outras variáveis consideradas relevantes para a interpretação dos resultados.

Animais de experiência – proveniência, género, espécie, raça, linhagem, idade, sexo e condições de alojamento e alimentação, antes e durante a investigação. Indicar se foram observados os cuidados de manuseamento e utilização de animais em experiências.

Microorganismos – identificação do género, espécie e estirpe.

Medicamentos e outros produtos químicos – devem ser, sempre que possível, designados pelo seu nome genérico, já que, os nomes comerciais variam de país para país. Mesmo em relação aos nomes genéricos, devem-se consultar as normas internacionais, nomeadamente, da Organização Mundial de Saúde, pois, por vezes, também apresentam variações. Para todas as drogas/substâncias devem ser enumeradas as doses, vias de administração e métodos de preparação. Por vezes pode ser necessário descrever as propriedades físico-químicas das substâncias. Se for necessário citar a designação comercial de um medicamento ou de um reagente, faça-o entre parêntesis curvos, logo a seguir ao nome genérico.

Aparelhos – Devem ser indicadas as especificações técnicas, marca, com nome e morada do fabricante entre parêntesis. Computadores usados para processamento de texto ou de dados a nível básico e programas informáticos não devem ser referidos, excepto para programas de análise estatística sofisticados e pouco conhecidos.

MÉTODOS

Apresenta-se a metodologia por ordem cronológica de aplicação, de modo lógico e sequencial. A apresentação deve ser descrita com suficiente pormenor, para que outros investigadores possam reproduzir as mesmas condições utilizadas na investigação.

Para tornar a secção mais facilmente legível, pode dividi-la em tópicos:

Desenho do estudo – uma descrição pormenorizada do tipo de estudo usado, começando pelo modo como os dados foram colhidos, se a colheita foi retrospectiva ou prospectiva, por quem foi realizada, em que condições e onde (localização do estudo), quais as variáveis e como as define, adequação e tamanho da amostra (se a sua base de dados, protocolo ou desenho foram descritos anteriormente cite as publicações relevantes).
Procedimentos de medição, instrumentos de medida, número total de observações e detalhes clínicos dos participantes devem ser mencionados. As técnicas comuns não necessitam ser detalhadamente descritas, como acontece com técnicas novas ou significativamente modificadas.

Elegibilidade – refere-se aos critérios de inclusão e de exclusão dos participantes, quantos indivíduos foram seleccionados, quantos foram excluídos e porque motivos, número de indivíduos avaliados, período de selecção, com a data de início e de conclusão do estudo. O sexo, idade e outras características relevantes dos participantes devem ser claramente indicados.

Intervenção e adesão – Qualquer substância ou aparelho utilizado deve ser adequadamente descrito, especialmente, se estão a ser testados ou utilizados pela primeira vez. Explique as razões pelas quais os usou e indique limitações dos mesmos. Deve incluir, ainda, informação sobre o fabricante e a referência do produto. Doses e vias de administração devem igualmente ser descritas.

Se realizou uma comparação de testes clínicos, especifique se foram de diagnóstico, prognóstico ou de rastreio, qual a ordem por que foram feitos e qual a razão dessa ordem. Discuta a importância relativa da sensibilidade e especificidade. Se realizou um ensaio clínico todos os principais elementos do estudo, incluindo o protocolo, devem ser especificados: população estudada, intervenções ou exposições e resultados esperados.

Métodos de análise dos dados – incluem referências bibliográficas dos métodos já estabelecidos. Se já publicados, mas pouco conhecidos, incluir uma breve descrição. Se são novos ou substancialmente modificados, descrevê-los em pormenor, incluindo uma avaliação das limitações destes.

Técnicas estatísticas - os testes comuns devem apenas ter a indicação de que foram utilizados, enquanto que os mais exóticos devem ser acompanhados por uma boa referência bibliográfica. Se necessário as análises estatísticas detalhadas e derivações matemáticas podem ser apresentadas em Anexo.

 

Erros mais frequentes:

Incluir nesta secção resultados

Inclusão de demasiados detalhes e de uma descrição excessiva ou descrição insuficiente.

 

Resultados

Devem ser apresentados segundo uma sequência lógica recorrendo de preferência ao uso de tabelas e imagens, servindo o texto para chamar a atenção para os pontos principais. Em publicações on-line existe a possibilidade de disponibilizar os resultados completos da investigação, o que raramente é possível nos jornais convencionais onde existem restrições de espaço que obrigam à selecção dos resultados.

 

Discussão/Conclusões

Enumere as suas conclusões, sucintamente, explique a importância do trabalho desenvolvido e dos resultados obtidos, mostre o enquadramento dos resultados no conjunto de conhecimentos prévios e deixe a maior parte da especulação para o leitor. Por vezes, um sussurro chama mais a atenção que um grito.

Se tiver dificuldades, comece por interpretar os resultados à luz dos achados de outras pessoas, discuta o seu significado e, finalmente, diga como é alteram ou fazem evoluir as ideias correntes. Se adequado indique futuras linhas de pesquisa.

 

Agradecimentos

Todas as contribuições relevantes mas não justificativas de autoria, tais como o apoio do director de um serviço, ajudas técnicas, apoios financeiros ou de material. Devem ainda ser incluídas referências a relações que possam suscitar conflito de interesses.

Aqui levanta-se o problema da autoria do artigo, que contribuições são dignas de figurar como co-autores e quais merecem apenas agradecimentos? Os Uniform Requirements são bem específicos: deve ser atribuída autoria a pessoas que

  1. Tenham contribuído para a concepção e desenho ou análise e interpretação dos dados;

  2. Tenham contribuído para a redacção e revisão do artigo com importantes contribuições intelectuais e de conteúdo;

  3. Tenham aprovado a versão final a ser publicada.

Assim, por exemplo, a supervisão geral de um grupo de investigação não é critério suficiente para reclamar autoria. A ordem pela qual os autores são citados no artigo é da exclusiva responsabilidade dos mesmos e surge do comum acordo entre todos os autores. É comum que o primeiro autor seja aquele mais directamente responsável pela execução do artigo, enquanto que o último é o mentor do projecto, lá diz o ditado: o primeiro transpira o ultimo inspira e os do meio suspiram.

 

Referências

As citações e referências devem ser exactas e seguir um estilo coerente. É necessário ter especial atenção já que quaisquer erros a este nível seram extremamente prejudiciais para a credibilidade do trabalho.

Nos Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals recomenda-se que as citações sejam numeradas por ordem de ocorrência no texto.